‘Cegos’ nas ruas da capital madeirense. Homens e mulheres trajados de empresários com o rosto vendado percorreram as ruas do Funchal, numa performance inspirada pela parábola de Cristo e por uma pintura de Pieter Bruegel.
Por PATRÍCIA GASPAR
“Deve ser uma
crítica aos que nos andam a roubar o dinheiro. Deus que me perdoe… parecem
mortos-vivos”, arriscava um homem na casa dos 60 anos. “Não, isto deve ser um
protesto contra as barreiras físicas?”, Retorquia-lhe uma jovem em tom assertivo. Os palpites multiplicaram-se, esta
tarde, à passagem da performance ‘Os
Cegos’ pelas ruas da capital madeirense.
Para
Henrique Amoedo, estava cumprido o objectivo da intervenção artística que juntou dezenas
de pessoas, numa Quinta-feira Santa de pouco sol.. “Queremos mexer com o
ambiente. Fazer com que as pessoas olhem para o que vêm todos os dias de outra
forma”, explicou o director artístico do Grupo Dançando com a Diferença.
Henrique
Amoedo desassocia qualquer mensagem política da performance mundial que vai percorrer 28 cidades do Brasil e grandes metrópoles internacionais,
como sejam Nova Iorque, Berlim e Roterdão.
Denominada “Performance
Intervenção Urbana – Cegos“, a intervenção artística que percorreu as ruas do
Funchal, esta tarde, nasceu pelas mãos dos professores Marcos Bulhões e Marcelo
Denny do Laboratório de Práticas Performativas da USP e chegou à Madeira através
do responsável pelo Grupo Dançando com a Diferença.
A expressão
artística inspirou-se em duas perguntas atribuídas a Jesus e registadas pelo
Evangelho de Mateus que
deu origem, em 1568, ao quadro ‘A parábola dos cegos’, do pintor holandês
Pieter Bruegel. A resposta de Bruegel para as perguntas de Jesus foi: “Um
cego não pode guiar o outro”. Mas, não foi assim que aconteceu hoje à tarde, quando um
invisual guiou dezenas de pessoas pela cidade.
“A interpretação da arte está em quem a vê…
Pode-se pensar em barreiras físicas, na cegueira literal, até em obstáculos
económicos: a mensagem está nos olhos de quem vê”, insistiu Henrique Amoedo, à passagem dos artistas.
Seja qual
for a interpretação da performance ‘Os cegos’, certo é que o evento atraiu a atenção
de muitos turistas, num dia de fraca oferta cultural e com a maioria das lojas
e dos museus a optar por fechar portas.
Sem comentários:
Enviar um comentário