domingo, 1 de dezembro de 2013

De professor a aluno do líder do PS-Madeira

REPORTAGEM
por PATRÍCIA GASPAR

António Gomes na cerimónia da tomada de posse.

Presidente da Junta de São Pedro há pouco mais de um mês, António Gomes assume-se como um independente que  ideologicamente sempre oscilou entre o PSD e o PS e que acredita nos projectos acima dos partidos.
“Não fazia ideia do que era liderar uma Junta (…) Gosto de tudo, neste papel”, confessou o autarca ao Domínio Público.





António Gomes tirou a liderança da Junta de Freguesia de São Pedro ao PSD nas últimas autárquicas, por uma diferença de 9,7% ( o candidato da ‘Mudança’ somou 39,8 dos votos contra os 30,13% dos social-democratas). A vitória surpreendeu no Funchal, mas não o autarca de 47 anos. “Quando me envolvo num projecto é para ganhar”, afirma.

O professor de Matemática pode ter começado a campanha como um anónimo, mas cedo se apercebeu da sua popularidade, uma conquista que atribui, em parte, ao facto de ter trabalhado com todas as escolas da Região, no âmbito do programa RS4 e do projecto Cel - Cooperar Empreender e Liderar.

“Fiquei surpreendido quando comecei a bater às portas, a encontrar ex-alunos, antigos colegas do serviço militar e pessoas conhecidas da minha terra, o Porto da Cruz”, recorda António Gomes, rindo-se ao lembrar das vezes que, durante as arruadas, foi confundido com o actual líder da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo. “Ainda hoje, acontece. Penso que tem a ver com a careca”, brinca.

Com os cartazes de campanha na rua, cresceu a popularidade e a consciência de que a ‘Mudança’ podia, de facto, acontecer. “As pessoas ligavam-me a dar os parabéns. Algumas até me diziam que estava bonito. Eu, que nunca me achei bonito, descobri nesses elogios uma das coisas boas da política”, conta.

Quem conhece António Gomes está habituado à sua personalidade descontraída e algo impulsiva. O líder da Junta de Freguesia de São Pedro garante, contudo, que tais ‘defeitos’ são superados por qualidades como a capacidade de trabalho, a produção de ideias ‘quanto baste’ e a humildade que o identifica e aproxima do eleitorado.

É precisamente o contacto com a população que o elegeu, a sua função favorita nas lides autárquicas. O autarca a tempo parcial despende uma média de duas horas por dia à Junta de Freguesia. Tamanha é a expectativa que, de momento, António Gomes ainda não se decidiu quanto a um horário para receber a população, na Rua dos Frias nº 88.

“Tenho recebido pessoas todos os dias. A população é muito amável. As pessoas dizem-me que ainda não me conhecem, não sabem quem sou. Isso pode causar alguma apreensão inicial, mas não tem impedido a comunicação”, assume. 
 

Novo presidente já cortou mais de 100 euros
O antigo Executivo retirou a foto de Jardim, mas
 Gomes devolveu-a à parede oficial. "Ele é
presidente do Governo e a hierarquia
 deve ser respeitada", justifica.
 em telefone
 

 A primeira coisa que o autarca da ‘Mudança’ fez, ao estrear o seu gabinete presidencial, foi abrir as janelas para arejar o espaço.
Não é só ar fresco que António Gomes quer deixar entrar na Junta. Os planos em análise são muitos e a poupança encabeça a lista das prioridades.

“Poupar é a nossa palavra de ordem. Neste momento, estou a cortar nas despesas o mais que consigo. Estou a rever todos os contratos onde há possibilidade de cortar”, adianta.

De cinco telefones, a Junta - que vai renovar, a partir de Janeiro, a sua imagem na Internet - passou a ter acesso apenas a dois e com ‘plafonds’ mais económicos. O resultado foi uma poupança de 150 euros. “Passamos de 230 para 80 euros”, declara António Gomes.

A medida foi bem aceite pela sua equipa. Apesar da diversidade ideológica, todos estão motivados, diz o autarca, para trabalhar de forma diferente e começar ‘a partir do zero’.

 “Tenho na Junta um elemento do PSD, outros dois do PS e PTP, trabalho com um membro do MPT e tenho uma parceria com o CDS. Acredito que ninguém se sente constrangido e que todos nos movemos pelo Bem Comum”, conclui António Gomes.
 A pensar no Bem Comum, a Junta de São Pedro quer atribuir a este mandato um cunho social e decidiu, por isso, manter algumas iniciativas da anterior equipa, como é o caso da atribuição de 110 cabazes de Natal, de 55 cabazes mensais para agregados em dificuldades económicas e de 17 bolsas de estudo anuais, no valor de 85 euros.

Em cenário de crise e de grandes dificuldades financeiras para as famílias, está também em curso um novo projecto que visa sinalizar e apoiar a população mais carenciada de uma freguesia com cerca de 7.300 habitantes (dados dos Censos 2011).

São 150 os casos de carência social sinalizados, mas António Gomes admite que o problema é bem mais grave. Para poder intervir mais eficazmente, a Junta de Freguesia está a desenvolver um projecto, ao abrigo do programa ocupacional para trabalhadores com subsídio de desemprego, que vai levar ao terreno dois profissionais.

A ideia é estabelecer proximidade com as famílias carenciadas, detectar os problemas de ordem estrutural e social e encontrar forma de os apoiar. O próprio presidente da Junta tem levado a cabo uma série de visitas aos locais problemáticos. Entre eles, os bairros do Hospital e dos Viveiros.

“Temos muitos problemas e pouca verba disponível. Para além do social, há problemas de pavimentação por resolver. Tudo é importante numa Junta, até mesmo as questões de desinfestação que em ruas como a Carreira, zona turística, são prementes”, desabafa António Gomes.

O autarca reconhece que são mais desafios do que estava à espera. “Não fazia ideia do que era liderar uma Junta, embora soubesse do que era capaz. É mais trabalhoso do que estava à espera, mas estou a adorar. Gosto de tudo, neste papel”, garante.
 

Professor de Victor Freitas e amigo de Paulo Cafôfo

 


António Gomes ladeado por Paulo Cafôfo e Victor Freitas,
em ambiente descontraído na Festa da Liberdade.

 

António Gomes conheceu Victor Freitas tinha o actual líder do PS-Madeira 15 anos. “Ele e o irmão [Hélder Spínola, deputado do PND] foram meus alunos em Santana. Eram muito aplicados”, recorda. Hoje, é o ex-educando que lhe dá lições.

“O Victor dá-me umas dicas políticas. Acredito que podemos melhorar o nosso trabalho partilhando experiências. Troco impressões com muita gente, desde o Duarte Caldeira, ao Miguel Iglésias, ao Guido Gomes e ao Bruno Ferreira (estes últimos, autarcas pela ‘Mudança)”, declara o professor.

Homem de projectos, António Gomes diz acreditar nas pessoas acima dos partidos e admite que, em termos ideológicos, sempre oscilou entre o PS e o PSD. “Neste momento, fui escolhido pelo PS mas sou independente. Sempre trabalhei com projectos e para pessoas. Sempre oscilei entre o PS e o PSD”, enfatiza.

O docente não tem dúvidas de que a sociedade de hoje vota, cada vez mais, em pessoas e projectos e adianta ter muitos amigos no PSD, no PS e até no CDS. “Ficaram surpreendidos com a minha candidatura, mas deram-me os parabéns”, diz.

Não obstante a sua grande admiração por Paulo Cafôfo – “ficava desolado se o Paulo não ganhasse a Câmara do Funchal”, afiança -, António Gomes teria aceite ser candidato pelo PS mesmo sem o líder da Câmara Municipal do Funchal (CMF).

“Aceitaria porque eu abraço projectos, porque os projectos e a luta pela igualdade são muito importantes para mim como sei que também são para o Paulo”, explica.

O autarca contactou pela primeira vez com o actual presidente da CMF há nove anos, quando Paulo Cafôfo era director da Escola da Fajã da Ovelha. “Foi empatia à primeira vista, mas nunca criámos laços de amizade muito profundos. A nossa amizade aprofundou-se no decorrer da campanha para as autárquicas”, observa António Gomes convicto de que este presidente vai marcar a história da câmara funchalense.


Docente apicultor e autarca. Quem é António Gomes?



                                                           Quem conhece António Gomes, já se habitou à sua personalidade descontraída. O presidente da Junta de Freguesia de São Pedro elege como uma das suas qualidades o dinamismo e a sua capacidade para preservar amizades. Entre o role de amigos está o líder da CMF, Paulo Cafôfo, com quem foi confundido várias vezes durante a campanha. "Ainda hoje acontece. Penso que tem a ver com a careca", brinca o autarca.
 
 

 
 
 
Muito antes de enveredar pela política, António Gomes já se interessava pelas causas públicas. A sua primeira paixão foi e continua ser a Educação.
 
O professor afecto à Escola dr. Ângelo Augusto da Silva, António Gomes concilia, desde 1998, o ensino com projectos de formação, chegando inclusive a ser formador do Ministério da Educação.

No currículo, soma a participação em projectos como o rs4e - road show for entrepreneurship, dinamizado pelo Centro de Empresas e Negócios da Madeira (CEIM), o CEL - Cooperar Empreender e Liderar – e o projecto Comenius.

Empreendedor por natureza, como se auto-intitula, António Gomes, que é pai de uma rapariga de 15 anos e de um rapaz de 19 anos, já geriu uma empresa de avicultura e esteve quase a enveredar por uma carreira militar na juventude.

“Nunca me dei parado. Bem jovem, já fazia parte de uma associação no Porto da Cruz. Fui aspirante oficial miliciano, mas não quis enveredar pela carreira militar. Depois da tropa, ingressei na licenciatura de matemática”, refere.

Nem só o empreendedorismo e a política interessam ao rosto da ‘Mudança’ em São Pedro. Nos tempos livres, António Gomes dedica-se à apicultura, um hobbie que já lhe custou cerca de 4 mil euros e que o leva de dois em dois meses aos terrenos agrícolas.

“Tenho colmeias no Porto da Cruz e no Parque Ecológico do Funchal. Não me dedico a 100% às abelhas. Só vou aos terrenos, organizar as colmeias e mudar a cera…”, sublinha.
 
Por ano, o autarca fundador da AMEL- Associação Amigos do Mel e Produtos Apícolas tira cerca de cem quilos de mel, matéria-prima que distribui pela família e pelos amigos.

Tal como a política, praticar apicultura não é fácil. “As ferroadas acontecem. Lembro-me de uma vez ter sido picado num olho…tive que ir para o hospital levar um anti-histamínico porque dava aulas no outro dia e não podia aparecer com o olho inchado”, lembra divertido.

De docente a apicultor, António Gomes lança-se agora nas lides políticas e promete fazer da sua liderança da Junta de Freguesia de São Pedro um mandato justo e equitativo. “Estou na política precisamente por isso, por não concordar com a forma injusta e humilhante com que o partido da maioria trata os grupos minoritários”, garante o autarca da ‘Mudança’.
 

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