Por PATRÍCIA GASPAR
Sidónio Silva está na Madeira, este Verão, para consolidar a sua carreira musical
Na África do Sul, o comendador Ivo de Sousa desfruta do sucesso de uma vida intensa
David Pestana refez a sua história na França, após a morte da mãe
No conforto da esplanada, bem perto dos dois maiores jornais da terra, Sidónio Silva conversa, com dois ilustres madeirenses. O cantor está na Madeira
até Novembro para promover o seu último trabalho.
Agosto já vai a meio e
o movimento é constante na rua mais frequentada da capital madeirense. Há quem
garanta que este ano vieram mais visitantes. Chegaram com o calor que também é
intenso. São turistas e emigrantes.
Em cada emigrante há uma história feita com trabalho,
perseverança, luta, saudade e, em alguns casos,
sucesso e muito dinheiro.
O músico tem encontro
marcado com o comendador Ivo de Sousa cuja é vontade é leva-lo à África do Sul para
um concerto. Na ilha, Sidónio Silva é um nome conhecido. O seu último trabalho
intitulado ‘As mulheres’ já vendeu 2 mil exemplares.
No topo da mesma rua
onde o emigrante toma um café, a fila para os gelados da ‘moda’ é grande. Uma
mulher comenta satisfeita o movimento. Antes de desaparecer em direcção ao
Mercado dos Lavradores, solta uma gargalhada animada e um gracejo atrevido.
“Agora, parece que só se fala com sotaque ‘venezuelano nesta terra’, exclama em
tom brincalhão.
Sidónio Silva está
concentrado na conversa com os amigos e não a ouve. Sobre a mesa, pousou vários
dos seus trabalhos. Orgulha-se de ser o segundo compositor madeirense, depois
de Max, com mais canções registadas na Sociedade Portuguesa de Autores. “São
todas originais”, regozija-se.
Da esq. para a dta. Sidónio Silva, Teresa de Sousa e Ivo de Sousa |
Em 1975, com a 4ª
classe, o menino natural do Loreto rumou à Venezuela. Não se pode dizer que o
percurso tenha sido fácil, mas o desfecho é feliz.
Depois de integrar várias bandas musicais, Sidónio decidiu gravar o seu primeiro trabalho discográfico intitulado ‘Viva a Nossa Tradicão’ com 10 temas da sua autoria, já lá vão mais de 20 anos. A ideia era agradar a família, mas o sucesso levou-o longe, a países como a Austrália, o Canadá, os E.U.A e à Inglaterra. Canta, segundo diz, para expressar as suas emoções.
Depois de integrar várias bandas musicais, Sidónio decidiu gravar o seu primeiro trabalho discográfico intitulado ‘Viva a Nossa Tradicão’ com 10 temas da sua autoria, já lá vão mais de 20 anos. A ideia era agradar a família, mas o sucesso levou-o longe, a países como a Austrália, o Canadá, os E.U.A e à Inglaterra. Canta, segundo diz, para expressar as suas emoções.
Em Maracay, na
Venezuela, onde vive há cerca de 40 anos, Sidónio Silva criou uma Academia
Musical de sucesso que tem no acordeão o rei dos instrumentos. É lá a sua vida,
mas a saudade da Madeira é, como diz, “sempre muita”, o que o leva a visitar a
ilha com muita frequência.
“Casei com uma sra. de
Aveiro. Todos os anos, venho a Portugal. Um ano, vou à terra, no outro venho à
Madeira”, conta.
Sidónio Silva é um
emigrante com uma história de sucesso, num país onde muitos madeirenses arriscam
a sorte e até a vida. É um caso de trabalho e de triunfo. Um homem de sorriso
fácil e humildade no trato cujo percurso pode servir de alento a tantos outros
conterrâneos que hoje tentam novas oportunidades fora do seu País.
‘O
melhor de Sidónio Silva’ está já em fase de elaboração
e será apresentado no próximo ano
e será apresentado no próximo ano
No palco, a mensagem
que Sidónio Silva passa é a do orgulho em Portugal e da saudade. Este Verão, o
cantor tem ainda agendadas diversas actuações. Entre elas, os arraiais de São
Vicente e da Ponta Delgada e a ‘Festa do Pêro’ na Ponta do Pargo.
A passagem pela Madeira
serve para matar saudades da terra, mas o trabalho não pára. O artista já pensa
inclusive no lançamento da compilação ‘O melhor de Sidónio Silva’, a apresentar
ao público no próximo ano.
De momento, todas as atenções centram-se no
álbum ‘As mulheres’ e é esse o CD que Sidónio Silva estende a Ivo de Sousa, logo
após os cumprimentos efusivos. O comendador, como é conhecido este emigrante
radicado na África do Sul, acaba de se juntar à mesa, acompanhado pela esposa Teresa
de Sousa.
Ivo
de Sousa: o presidente de “tudo e de mais alguma coisa”
É véspera da partida
para o casal que se conheceu em Pretória e por lá fez vida. Ivo de Sousa e Teresa
de Sousa estão casados há 42 anos. Tinha ela 16 anos, quando o actual marido se
perdeu de amores.
O pai da madeirense era
dono de um mini-mercado na capital sul-africana e o comendador decidiu abrir uma
mercearia congénere nas imediações, o que lhe valeu a antipatia do sogro. Para fugir
ao controlo dos pais, o namoro fez-se inicialmente por carta.
“Roubou a filha e os
fregueses… O meu pai teve de fechar a loja”, exclama Teresa, rindo-se
entusiasticamente e garantindo que a paixão pelo marido é a mesma de há 40
anos.
A vida foi generosa
para estes emigrantes que apenas se queixam da insegurança na África do Sul.
Teresa não esconde o orgulho no companheiro cujo trabalho em prol das causas
sociais foi recentemente homenageado pela Casa do Povo da Fajã da Ovelha, terra
de onde é natural.
FOTO DR |
Ivo de Sousa tem, de
facto, um curriculum impressionante. Foi presidente da Casa da Madeira de
Pretória, do Sporting de Pretória, dos Lusíadas, uma organização de
solidariedade social, do Marítimo de Pretória, do Conselho Paroquial da Igreja
Portuguesa e ainda Conselheiro das Comunidades Madeirenses, entre outras coisas.
Hoje, reformado aos 62
anos, o comendador faz por desfrutar dos dividendos de uma vida de trabalho. Vive dos
rendimentos e mantém-se ligado a quase todas as instituições que liderou. Na
Fajã da Ovelha é uma figura pública. Lá mandou erguer em 1998, a Capela de Nossa
Senhora da Aparecida, uma igreja situada na Lombada dos Marinheiros e que
comprova o seu amor pela terra.
Emigrante
em dois países
David Pestana não
constrói templos. Recupera casas antigas. Descobriu o talento, em 2004, quando
decidiu abandonar o curso na área das línguas e tradução. Diz que só
frequentava a universidade para orgulho da mãe e garante que era mais feliz a
trabalhar na construção civil ou nas bancas de fruta que ainda hoje proliferam pela ilha,
durante o Verão.
Em 2004, partiu para a
França, terra onde nasceu e viveu até aos nove anos. A mãe, jovem ainda, enfrentava
um cancro em fase terminal e David não suportava vê-la em sofrimento. O caso
complicou-se quando engravidou a namorada. Assim, rumou à sua terra natal, com
a filha e a companheira para começar uma nova vida.
Deixar Portugal não foi
difícil. David sempre se sentiu mais francês do que português. Os pais
emigraram em criança para a França. A mãe tinha inclusive dupla nacionalidade.
Complicado foi mudar-se para o Jardim da Serra aos 9 anos. “Não havia água em casa…
Tinha de ir buscar à fonte e não tinha contacto com os meus amigos”, lembra.
Entre as dificuldades
de adaptação estava também a língua. David não dominava o português e isso
depressa transpareceu nas notas. Foi proibido de falar ou escrever francês, o
que lhe despertou alguma revolta interior.
“Não sabia onde pertencia.
Hoje, sinto-me um francês com muito orgulho nas minhas origens portuguesas”,
atesta.
Quando
compreendeu que ia perder a mãe,
o jovem agora na casa dos 30 anos
percebeu que era tempo
de regressar a casa.
o jovem agora na casa dos 30 anos
percebeu que era tempo
de regressar a casa.
Com mil euros na conta,
meteu-se num avião e em apenas uma semana arranjou trabalho como pedreiro. O
irmão mais novo juntou-se a ele.
Há cinco anos,
separou-se da companheira e ficou com a filha a seu cargo. A cumplicidade que
os une é indisfarçável e David não tem dúvidas de que a pequenina Sara é “tudo
o que importa”.
Em Rodez, uma pequena vila
da região de Aveyron, no sul de França, o profissional de construção civil tem “uma
vida boa”, com casa, carro próprio e conforto. Há cinco anos, criou, em
parceria com o irmão, uma empresa familiar e dedica-se à recuperação de casas antigas. É,
como diz, uma arte que os franceses não querem para profissão e que ele adora. Hoje,
já não é um emigrante entre duas pátrias. É o protagonista de mais uma história com um
desfecho feliz em terras que, não sendo portugueses, também elas pertencem à
alma lusitana.
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