Por EMANUEL SILVA
(…) Um
dos episódios relatados nos telegramas da embaixada dos EUA em Lisboa e
divulgados pelo Wikileaks prende-se com a visita à Madeira, a 23 de Outubro de
1976, para a instalação da Assembleia Regional, do então presidente da
República, Ramalho Eanes e do então primeiro-ministro, Mário Soares.
Diz
o telegrama que os governantes do continente foram recebidos na ilha de forma
pouco caloroso e com um editorial demolidor de Alberto João Jardim no ‘Jornal
da Madeira’. “Mário Soares foi vaiado pelo público na sua chegada
à Assembleia Regional” e o discurso
“patriótico” e “nacionalista” de Ramalho Eanes, sem nunca mencionar a palavra
‘Autonomia’, gerou grande desconfiança.
Uma outra
mensagem publicada pela Wikileaks mostra que o grupo empresarial Grão-Pará
contactou a Embaixada dos EUA, em Dezembro de 1974, para tentar vender parte do
seu património, por estar em dificuldades na Madeira, onde tinha o complexo
turístico Matur/Atlantis. O grupo de Fernanda Pires da Silva pedia 150 mil
contos.
Num
outro telegrama dá-se conta de especulações sobre a instalação, na Madeira, de
uma base da indústria pesqueira soviética. O alarme soou em Agosto de 1974,
quando a empresa ‘Wiese’ pediu autorização para instalar tanques de
combustíveis no Funchal. A embaixada dos EUA desconfiava de objectivos
militares e aconselhou Washington a enviar o navio-escola 'Eagle' ao Funchal, como
“símbolo dos laços luso-americanos”. No telegrama de 9 de Abril de 1975,
Carlucci relata a conversa que teve com o embaixador soviético, em que este
garantiu ser uma mera operação comercial.
Um
dos episódios mais dramáticos do 'Verão quente' foi o ataque dos militantes da
União do Povo da Madeira (UPM) ao iate 'Apollo' e a expulsão do navio e dos
seus tripulantes do Funchal (3 e 4 Outubro de 1974), sob a acusação de serem
agentes da CIA. No site da Wikileaks há cerca de dez mensagens diplomáticas
sobre o assunto, incluindo uma que descreve um encontro em que o
primeiro-ministro Vasco Gonçalves fala em tais suspeitas. Mas nenhuma mensagem
confirma actividades da CIA.
O
que há, sim, é uma mensagem de 10 de Abril de 1974, oriunda de Marrocos, que
prova que ainda antes da 'revolução dos cravos' os serviços diplomáticos
americanos investigaram as actividades misteriosas do navio e associaram-nas à
Igreja da Cientologia.
Há também mensagens que mostram que a diplomacia
americana manteve o 'Apollo' 'debaixo de olho' após a conturbada saída do
Funchal, seguindo-o em escalas em Cádiz, Trindade e Tobago e Curaçao. (CONTINUA…
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