A propósito do 'afastamento recente' de Bertone e das palavras de hoje (ontem) de Francisco, sobre o capitalismo, sabendo-se o que se sabe sobre o Vaticano (riqueza) e das suas ligações menos 'católicas'
OPINIÃO
FERNANDO MANUEL LETRA
Se não aconteceu, podia ter acontecido.
O relato de uma mosca no conclave. ... Há oito anos, Jorge Mario Bergoglio teve de pedir aos outros cardeais para deixarem de votar no seu nome, para que um novo Papa fosse eleito. Com efeito, desde o início do conclave de 2005, e embora Joseph Ratzinger tivesse uma vantagem confortável sobre o segundo nome mais votado, a persistência de alguns cardeais em votar no nome do argentino não permitia a necessária vantagem de dois terços para que o nome do alemão desse origem a fumo branco. Foi preciso que Bergoglio, literalmente em lágrimas, pedisse que não votassem mais em si para ultrapassar o 'imbróglio'. Ratzinger ganhou, e tornou-se Bento XVI, mas oito anos depois resignou, por cansaço - oficialmente -, por outras razões mais obscuras segundo várias fontes. Desta vez, em 2013, essa questão não se pôs. Desde a primeira votação que Bergoglio se destacou. Os cardeais 'repetentes' - em relação ao conclave de 2005, mantiveram-se 46 cardeais (22 da Europa, 16 da América, 4 de África, 3 da Ásia e 1 da Oceânia) - que apoiavam o argentino desta vez não cederam e, desde o início, mostraram que não recuariam perante os outros blocos de interesses. E se, na primeira emissão de fumo negro, havia ainda vários 'papabili' com hipóteses, o desenrolar das votações seguintes veio a mostrar que o segundo lugar de Bergoglio em 2005 não tinha sido por acaso. A facção adepta do arcebispo de Buenos Aires, com o brasileiro Cláudio Hummes à cabeça, foi convincente e conseguiu arrebanhar mais e mais votos a favor do seu candidato, à medida que os fumos negros se seguiam. O 'lobby' americano (33 cardeais eleitores) consegue 'meter uma lança' em África (11) e também na Ásia (10) e Oceânia (1) e assim fazer frente ao 'grupo' europeu (60). De nada adiantou a vontade do colégio cardinalício italiano em pretender voltar a ter no trono de Pedro um Papa do país da bota. As hipóteses começavam a ser escassas, com as votações no argentino a aumentarem na continuação dos escrutínios. Se, no início, haveria algum equilíbrio entre três ou quatro cardeais - com dois italianos (Bertoni e Scola) a dividirem entre si as preferências 'europeias' -, nos momentos que se seguiram foi notório que a ala americana não iria desistir e que alguém teria de ceder. Segundo os rumores, Bergoglio alcançou na última votação mais de 90 votos dos 115 cardeais presentes. Consumada a eleição, Cláudio Hummes abraça Bergoglio, beija-o na face e sussurra-lhe ao ouvido: “Não te esqueças dos pobres”. À cabeça do argentino vem uma imagem; estava encontrado o novo Papa... Francisco. Quer queiramos ou não, há muita 'política' envolvida na eleição de um novo Papa, e desta vez não houve novidades. Corre o rumor que para um Papa não europeu tem de haver um secretário 'de Estado' italiano, que será responsável pelo banco mais poderoso do mundo - o do Vaticano... Ter-se-á chegado a um consenso? Isso é o que vamos ver nos próximos dias, com a nomeação dos novos assessores do Papa. Bertone é o actual responsável pelas finanças da Igreja Católica e, sem conseguir a nomeação para chefe máximo da congregação, tudo indica que lá continuará, ou será substituído por outro italiano, para que tudo fique na mesma... Não foi exactamente assim que aconteceu? Talvez. Mas poderia ter sido...
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