quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Carlucci, o separatismo, julgamento popular em Machico e suspensão de programa de rádio

DOSSIER WIKILEAKS
Por EMANUEL SILVA

 (...) Os relatos do ‘Verão quente’ de 1975 foram feitos em telegramas confidenciais do então embaixador dos EUA em Lisboa, o diplomata Frank Carlucci (embaixador entre Dezembro de 1974 e Fevereiro de 1978). Cita a Madeira em cerca de cinco dezenas de mensagens que enviou para o Departamento de Estado, em Washington.
A organização do controverso Julian Assange encarregou-se de divulgar mais de dois milhões de telegramas da diplomacia norte-americana, entre eles mais de 300 a falar da Madeira no período compreendido entre 1973 e 2010.
A 4 de Março de 1975, um telegrama dava conta da suspensão por três dias de um programa de rádio na Madeira por “pública ofensa à unidade militar, disciplina e hierarquia”. O programa dava voz a apoiantes da UPM.
Num dos telegramas confidenciais de Carlucci, com data de 10 de Setembro de 1975, dá-se conta da actividade dos movimentos separatistas na Madeira. O sumário do telegrama intitulado ‘Independência da Madeira’ dizia o seguinte: “A actividade separatista está a criar um clima de tensão na Madeira. A cobertura da situação por parte da imprensa de Lisboa é extensa”.
O telegrama com as palavras-chave ‘Madeira, Situação política, comentários de imprensa, auto-determinação’ foi dirigido a várias entidades entre elas ao comando das Forças americanas nos Açores, ao comandante-chefe do Atlântico, ao comando militar na Virgínia, ao comandante-chefe na Europa e na Alemanha, à Agência Inteligente de Defesa, ao Departamento de Estado Norte-Americano quer em Paris (França) e em Bona (Alemanha), e à NATO.
O relato do “clima de tensão” inclui o famoso episódio da detenção e ‘julgamento popular’ de cinco jovens em Machico. Na altura, a 4, 5 e 6 de Setembro de 1975, as confrontações entre a extrema-esquerda e os separatistas, levou à intervenção do então governador da Madeira, general Carlos Azeredo, para estancar o linchamento de cinco jovens que tinham sido acusados de pintar murais separatistas em Machico.
O clima era ‘quente’ por parte do movimento União do Povo da Madeira (UPM), com ligações à UDP e ao padre Martins Júnior (então presidente da Câmara de Machico). A mando de Carlos Azeredo –etiquetado pela UPM de ‘Spinolista’- os militares tiveram de intervir e de usar gás lacrimolégio. Resultado: seis feridos.
A actividade da Frente de Libertação da Madeira (FLAMA) estava ao rubro, sendo acusada de colocar bombas em nome da luta pela independência do arquipélago. Carluci dá conta de que a cobertura noticiosa de então era “geralmente factual, com ênfase na análise das raízes socioeconómicas do separatismo”.
Para além da série de atentados separatistas, o telegrama de Carlucci relata ainda o episódio da “multidão separatista” que forçou a partida da ilha do Porto Santo, de um professor continental considerado “progressista”.
Num outro telegrama Carlucci informava que a FLAMA tinha “armas e homens (veteranos da guerra em África) preparados para as utilizarem” e que reivindicava a autoria de um atentado à bomba contra as instalações da Emissora Nacional no Funchal. (CONTINUA... LEIA MAIS AMANHÃ)
 

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