Por EMANUEL SILVA
(...) Os relatos do ‘Verão quente’ de 1975 foram feitos em telegramas
confidenciais do então embaixador dos EUA em Lisboa, o diplomata Frank Carlucci
(embaixador entre Dezembro de 1974 e Fevereiro de 1978). Cita a Madeira em
cerca de cinco dezenas de mensagens que enviou para o Departamento de Estado,
em Washington.
A organização do controverso Julian Assange encarregou-se de
divulgar mais de dois milhões de telegramas da diplomacia norte-americana,
entre eles mais de 300 a falar da Madeira no período compreendido entre 1973 e
2010.
Num dos telegramas confidenciais
de Carlucci, com data de 10 de Setembro de 1975, dá-se conta da actividade dos
movimentos separatistas na Madeira. O sumário do telegrama intitulado
‘Independência da Madeira’ dizia o seguinte: “A actividade separatista está a
criar um clima de tensão na Madeira. A cobertura da situação por parte da
imprensa de Lisboa é extensa”.
O telegrama com as palavras-chave ‘Madeira,
Situação política, comentários de imprensa, auto-determinação’ foi dirigido a
várias entidades entre elas ao comando das Forças americanas nos Açores, ao
comandante-chefe do Atlântico, ao comando militar na Virgínia, ao
comandante-chefe na Europa e na Alemanha, à Agência Inteligente de Defesa, ao
Departamento de Estado Norte-Americano quer em Paris (França) e em Bona
(Alemanha), e à NATO.
O relato do “clima de
tensão” inclui o famoso episódio da detenção e ‘julgamento popular’ de cinco
jovens em Machico. Na altura, a 4, 5 e 6 de Setembro de 1975, as confrontações
entre a extrema-esquerda e os separatistas, levou à intervenção do então
governador da Madeira, general Carlos Azeredo, para estancar o linchamento de
cinco jovens que tinham sido acusados de pintar murais separatistas em Machico.
O clima era ‘quente’ por parte do movimento União do Povo da
Madeira (UPM), com ligações à UDP e ao padre Martins Júnior (então presidente
da Câmara de Machico). A mando de Carlos Azeredo –etiquetado pela UPM de ‘Spinolista’-
os militares tiveram de intervir e de usar gás lacrimolégio. Resultado: seis
feridos.
A actividade da Frente de Libertação da Madeira (FLAMA) estava ao
rubro, sendo acusada de colocar bombas em nome da luta pela independência do
arquipélago. Carluci dá conta de que a cobertura noticiosa de então era
“geralmente factual, com ênfase na análise das raízes socioeconómicas do
separatismo”.
Para além da série de atentados separatistas, o telegrama de Carlucci
relata ainda o episódio da “multidão separatista” que forçou a partida da ilha
do Porto Santo, de um professor continental considerado “progressista”.
Num outro telegrama Carlucci informava que a FLAMA tinha “armas e
homens (veteranos da guerra em África) preparados para as utilizarem” e que
reivindicava a autoria de um atentado à bomba contra as instalações da Emissora
Nacional no Funchal. (CONTINUA... LEIA MAIS AMANHÃ)
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