Por EMANUEL SILVA
Mais vozes do que nozes
Até
Agosto de 1975, na visão da Embaixada dos EUA em Lisboa, a Madeira parecia
caminhar para a independência. A 6 de Março de 1975, um telegrama sobre os
movimentos independentistas nos Açores falava também do Movimento para a Independência
da Madeira e dos Açores (MIMA). Mas a visita
ao Funchal do diplomata William P. Kelly, realizada em Setembro de 1975, mudou
radicalmente a perspectiva da diplomacia norte-americana sobre o assunto.
A
discreta visita do diplomata terá mostrado que os separatistas da FLAMA “nunca
foram mais do que umas poucas dúzias de pessoas”, “não tinham o apoio das
classes trabalhadoras urbanas e rurais que constituíam 80% da população” e que
“a imprensa de Lisboa exagerou na importância” dada ao fenómeno separatista.
A
primeira referência a movimentos separatistas na Madeira data de 18 de Junho de
1974, menos de dois meses após a revolução. A mensagem é enviada para o Departamento
de Estado, em Washington, pelo então embaixador em Lisboa, Stuart Nash Scott,
que fala na existência de “dois movimentos independentistas” - o “Movimento de
Autonomia das Ilhas Atlânticas (MAIA)”, liderado por José Maria da Silva, e o
“Socialistas pela Independência da Madeira (SIM)”.
Mas
o diplomata desvalorizou: “São consequência do crescente sentimento de
negligência e despreocupação por parte da metrópole face aos problemas locais”,
referiu.
A
FLAMA, o movimento independentista mais activo, só surge na correspondência
diplomática americana mais de um ano depois. A primeira de 15 mensagens com
referências a esta organização terrorista tem data de 20 de Agosto de 1975.
No
telegrama de Stuart Scott dá-se conta que um médico da Madeira, dono de vários
hotéis e ligado aos movimentos separatistas (o nome não é revelado) entrou em
contacto com representantes da Embaixada dos EUA em Lisboa para, aparentemente,
procurar apoio para a causa independentista.
“Este
médico disse que a Madeira, com o seu vinho, turismo e agricultura, podia ser
facilmente auto-suficiente, sobretudo porque não teria que enviar os seus
impostos para Lisboa (ele estima que apenas um em cada dez escudos enviados
para a metrópole retorna à economia das ilhas)”, descreve Stuart Scott no
telegrama.
Dá
ainda conta de que a sua fonte na ilha chamou à atenção para a importância
estratégica do aeroporto do Porto Santo para a NATO e como o mesmo poderia
servir de alternativa à Base das Lajes, Açores.
Também
Frank Carlucci, num telegrama de 3 de Outubro de 1975, já depois das conclusões
feitas pelo envio de Willima Kelly à Madeira, deu conta que a verdadeira luta
dos madeirenses não era pela independência mas pela melhoria da qualidade de
vida (Autonomia).
“A
saída de [Vasco] Gonçalves e a formação do VI Governo Provisório afastaram com
eficácia grande parte do incentivo político do movimento independentista
madeirense. A maioria dos madeirenses estão convictos que a Autonomia em
relação a Portugal vai permitir-lhes resolver os seus problemas económicos”,
conclui a mensagem. (CONTINUA... LEIA MAIS AMANHÃ)
É, sem dúvida, um excelente artigo jornalístico. Só tenho um reparo a fazer: a autoria do artigo é de MIGUEL FERNANDES LUÍS, com publicação original na edição impressa do DN-Madeira de 25-04-2013. http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/382743/madeira/382772-o-americano-que-neutralizou-a-independencia-da-madeira
ResponderEliminarTenho para mim que os dois jornalistas plagiaram o texto de algum lado e isto não tem nada de excelente. É o chamado jornalismo do rabo sentado.
ResponderEliminarO artigo do jornalista MIGUEL FERNANDES LUÍS é excelente pois deve resulta de muitas horas de trabalho a ler documentos da Wikileaks e revela factos até agora desconhecidos de um período importante da nossa história recente. Parece-me ser um artigo original. Mas posso mudar de ideias se me indicar que órgão de comunicacao social, português ou estrangeiro, revelou a história da viagem de William P. Kelly à Madeira no periodo do 25 de Abril.
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