quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Francisco Clode lança 'Retratos e Lugares Secretos' em Lisboa e no Funchal


O livro conta com prefácio da escritora Helena Marques,que apresentará a obra em Lisboa. No Funchal, a apresentação da mesma está a cargo de Ana Margarida Falcão. São as memórias de um Funchal reinventado.


Por LUÍS ROCHA
Uma obra que mistura a realidade com a ficção, procurando não só evocar mas também, de alguma forma, reinventar o nosso imaginário histórico, é uma das formas possíveis de caracterizar o livro ‘Retratos e Lugares Secretos’, de Francisco Clode de Sousa. A obra, uma edição de autor que tem o apoio do Município do Funchal e que conta com ilustrações de época, da Photographia Museu Vicentes, será lançada no próximo dia 13 do corrente mês de Dezembro (sexta-feira) em Lisboa. E contará, na oportunidade, com uma apresentadora de peso: a escritora e antiga jornalista Helena Marques, autora de ‘O Último Cais’ e ‘A Deusa Sentada’, entre outros livros. O lançamento decorrerá no nº 85 da Rua D. Pedro V, na capital portuguesa, às 18h30 da supracitada data.

Francisco Clode de Sousa procederá, depois, a uma apresentação no Funchal, a 16 de Dezembro (segunda-feira), também às 18h30, no Museu de Arte Sacra. Desta feita, a apresentação estará a cargo da também autora e professora universitária Ana Margarida Falcão.

O ‘Domínio Público’ teve acesso ao livro antes do lançamento, e é evidente o que nele terá cativado o interesse de alguém que, como Helena Marques, guarda da Madeira referências especiais do passado e as verteu nos seus romances: trata-se de uma narrativa desenvolvida em diversos episódios, que insufla vida em diversos momentos da História da Madeira, caracterizando personagens curiosas, por vezes burlescas, só possíveis num meio marcado, simultaneamente, pelo cosmopolitismo que nos traziam os navios que aportavam ao Funchal e pelo conservadorismo de uma localidade de província. Um paradoxo gerador de peculiaridades que Francisco Clode ficcionou, sob um pano de fundo de realidade, entretecida pelo conhecimento histórico e por décadas de ouvir contar histórias a parentes e conhecidos sobre acontecimentos ou personalidades incomuns.

"Numa escrita lúcida e objectiva, velada pela ironia de quem muito ama e impulsionada pelo imperativo de preservar memórias e costumes que são património colectivo, o escritor madeirense Francisco Clode de Sousa entrega aos leitores, neste seu primeiro livro, uma surpreendente evocação do Funchal dos princípios do século XX (…"), escreve Helena Marques no prefácio. E prossegue elogiando a ‘linguagem rigorosa, sempre timbrada por um misto de amor e lucidez, mas também por uma ironia subtil e certeira” que o autor utiliza.

Clode, esse, explica-nos como surgiu este livro e quais os seus objectivos: “Em todas as histórias há um travo de realidade e 99 por cento de efabulação. As histórias podem ter como fundo uma personalidade que existiu, mas a história que eu conto sobre essa personalidade não tem nada a ver com essa pessoa. No fundo, é uma perfeita efabulação e a mistura da ficção com a realidade, e com histórias que eu ouvi. Mas a maior parte é inventado. O que me interessava era captar o espírito de um lugar e de um tempo e não a verdade da História”. E é nisso que reside a graça desta aventura literária, sustenta.

“No fundo, aquilo que me entusiasmou foi a ideia de que uma cidade vai muito para além das suas memórias físicas, e de que um lugar é, sobretudo, as suas pessoas e aquilo que elas representam. Tratou-se, no fundo, de dar voz a uma coisa muito etérea: os quotidianos de outros tempos, gestos, situações, mundos que desapareceram e que eu quis, de certa maneira nostálgica, fazer voltar”, acrescenta.

O conhecido museólogo, director de serviços de Museus e Património da Direcção Regional dos Assuntos Culturais e artista plástico quis ressuscitar um pouco os habitantes da ilha e a maneira como viviam e se viam a si próprios e aos outros. “No fundo é uma reconstituição de um tempo histórico”, admite, mas quase como um castelo de areia, dado que nada daquilo é História… são histórias. “Procurei, no entanto, que houvesse uma racionalidade de situações, mas não com o intuito de falar de alguém, ou de nada… Nenhuma das personalidades que aparecem naquele livro existiu: existiram, isso sim, aquelas circunstâncias”.

Entre as personagens carismáticas locais e os visitantes estrangeiros, as leituras não se dividem: completam-se.

“O livro é sobre o mundo que acaba no cais, um mundo de paróquia, e, ao mesmo tempo, que começa no Golden Gate”, a tão propalada e cosmopolita ‘esquina do mundo’ de Ferreira de Castro, por onde se cruzavam visitantes ingleses, expatriados de Gibraltar, emigrantes de diversas proveniências e habitantes locais de várias estirpes. Entre um mundo e o outro, tão distantes e tão próximos, efabula-se neste livro o convívio dos dois.

Francisco Clode de Sousa não quer ficar por aqui: confidenciou-nos estar a trabalhar num romance, cujo fulcro pode ser encontrado numa das histórias que compõem este ‘Retratos e Lugares Secretos’ e sobre cuja matéria não se quer alongar. O romance não tem data marcada para publicação, nem nada que se pareça… mas nunca se sabe. Nem se sabe a que tipo de narrativa poderá conduzir. Recheada de tipos fascinantes, adivinha-se. Porque, como o coloca Clode, “só numa terra como esta, entre os turistas e os levadeiros, se poderiam ter gerado figuras tão curiosas e com tanta graça”.

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