Por EMANUEL SILVA
O CEMA é propriedade da FSD. |
Desta vez
os queixosos são de peso: Alberto João Jardim; Jaime Ramos; Carlos Machado (‘Machadinho’);
e a Fundação Social-Democrata da Madeira (FSD).
O caso
remonta a 2008.
Recorde-se
que ‘O Garajau’ publicou uma série de reportagens sobre a FSD que, depois, em
Abril de 2011, foram repescadas pelo livro editado pelo jornalista Ribeiro
Cardoso denominado "Jardim, a Grande Fraude" e no qual dedicou o XV
capítulo à FSD.
Ora, ‘O
Garajau’ ousou questionar o património da FSD.
Na sua
edição de 14 Janeiro de 2005, o ‘Garajau’ publicou um texto intitulado
“Fundação milionária” que começava deste modo: “Não herdou, não trabalhou, não
recebeu fundos do Estado nem é dona de nenhuma mina d’ouro. Contudo é
proprietária de um rico e vasto património adquirido à custa de doadores e
mecenas anónimos. O ‘Garajau’ sobrevoou a Fundação Social Democrata (FSD) e desvendou
alguns segredos. Só faltou mesmo ver a conta bancária”.
O extinto
‘Garajau’ investigou durante seis meses o património da FSD-M. Inicialmente
foram solicitados dados e outros registos em nome da FSD-M inscritos nas
diferentes Conservatórias de Registo Predial da Região, mas – lê-se no texto –
“somente uma Conservatória respondeu positivamente”.
‘O
Garajau’ “viu-se obrigado a recorrer aos registos dos serviços de Finanças” e
publicou um quadro com o património da FSD-M: “de 1989 até 2005 nas Finanças da
Madeira estão registados em nome da FSD-M 26 prédios rurais e urbanos no valor
de 963 mil euros – em muitos casos quantias completamente desactualizadas”.
Porém, ‘O
Garajau’ dizia ainda ter descoberto existirem muitos prédios da FSD-M que não
constavam dos registos das Finanças, como por exemplo “a valiosa Quinta Escuna,
com cerca de 6.000 metros quadrados de terreno, situada em Stª Cruz e adquirida
pela Fundação em finais de 2000; a sede do PSD no Caniço, localizada no
Edifício ‘Central Park’ e cuja fracção ‘B’ foi adquirida em nome do PSD na
Camacha, cujo imóvel também pertence à Fundação; o complexo multiusos,
denominado CEMA (com sala de conferências, exposições, centro de imprensa, bar
de apoio, recepção e grande armazém) localizada em Santa Quitéria, S. Martinho,
cuja construção foi terminada em 2002 e custou cerca de 1,5 milhões de euros; e
mais outro património adquirido recentemente, ainda em tramitação burocrática”.
Segundo o
‘Garajau’, faltava ainda “juntar as contas bancárias e a frota automóvel,
composta na sua maioria por carros de luxo (Mercedes e BMWs)”. O jornal referia
também que, “de acordo com um especialista em avaliações imobiliárias”, a
fundação jardinista era detentora de uma riqueza “talvez na ordem dos 3 milhões
de contos, em moeda antiga”.
Com a
agravante de, como revelava ‘O Garajau’, “a FSD-M só muito raramente declarar
às Finanças o valor das suas transacções imobiliárias – o que contraria a lei”,
que a obriga a tal prática para aferir se terceiros cumprem as suas obrigações
ao fisco.
“Sabemos
que a instituição adquiriu ao longo de anos um vasto conjunto patrimonial
imobiliário. Com dezenas de propriedades no activo, a FSD conseguiu isenções
fiscais para quase todos os imóveis à sua guarda. Exemplo disso são as mais de
três dezenas de sedes do PSD/M que estão em seu nome e em relação às quais
nunca pagou impostos. Isto apesar dessa isenção só poder ser dada quando os
imóveis se destinam aos fins para os quais a Fundação foi criada. O que não é,
nem nunca foi, o caso das sedes laranja”, concluiu o quinzenário satírico.
As
notícias sobre a FSD-M não se ficam por aqui. Em 29 de Fevereiro de 2008 aquela
instituição comprou a Jardim a sua casa na Rua do Quebra Costas, onde o líder
insular viveu até aos 30 anos. Objectivo: construir aí uma casa-museu que
perpetuará a memória do chefe máximo, tendo em conta que ele anunciou a sua
retirada em 2011. Mais coisa, menos coisa, como Kim Il Sung fizera na Coreia do
Norte – no que toca à casa-museu…
A
Fundação, para além de pretender recriar o ambiente em que decorreu a infância
e juventude de Jardim, contava expor ali toda a grande colecção de medalhas
comemorativas, nacionais e estrangeiras, que lhe foram sendo oferecidas; placas
representativas das Comunidades madeirenses espalhadas por todo o mundo e
visitadas pelo Presidente; muitos dos livros da biblioteca privada de Jardim; e
recordações das mais variadas colectividades portuguesas e estrangeiras.
‘O Garajau’
descobriu novos dados que, no seu entender, “provam que andam grandes
negociatas imobiliárias à volta da FSD-M, uma fundação criada pretensamente
para defender a autonomia e os ideais da social-democracia, e onde ninguém sai
incólume”.
O
quinzenário associou ao negócio da ‘Quinta Escuna’ vários accionistas de peso,
entre os quais o adjunto de Jardim, ‘Machadinho’ o que levou o ‘Garajau’ a
utilizar o subtítulo “Também tu, Machadinho!”
O texto
de 2008 terminava assim: “Agora que a Quinta da Escuna tem ‘mecenas’ de peso, é
de prever em breve, naquele espaço, o nascimento de um grande, mas mesmo grande,
empreendimento imobiliário”.
Na
verdade, ‘O ‘Garajau’ foi bruxo: a 29 de Julho de 2009 – um ano depois-, surgiu
a notícia intitulada “Câmara de Santa Cruz aprova negócio milionário”.
A
Fundação foi criada em 1992 por 30 membros da ‘nata’ do PSD-M e teve uma
administração composta por um trio de peso: Alberto João Jardim, Jaime Ramos, e
Miguel Albuquerque que se demitiu da FSD após a publicação do livro "Jardim,
a Grande Fraude". O presidente do conselho fiscal da FSD foi Luís Dantas, ex-chefe
de gabinete de Jardim desde 1978.
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