Por EMANUEL SILVA
O comendador Joe Berardo critica a hipocrisia do presidente do República, Cavaco Silva ao associar-se hoje à cerimónia de despedida do prémio nobel da paz, Nelson Mandela.
Joe
Berardo disse ser preferível que a representação de Portugal fosse assegurada
pelo Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho ou mesmo pelo Ministro dos Negócios
Estrangeiros (MNE), Rui Machete.
“Ouvi hoje na rádio que o
presidente [Cavaco Silva] chega [à África do Sul] às 11 horas e regressa à
tarde. Fica apenas algumas horas e nem vai visitar a comunidade…. Era
preferível não ir”, disse.
Joe Berardo confidenciou que se
cruzou ontem com Rui Machete a quem indagou da possibilidade de ser este e não
Cavaco Silva a deslocar-se à África do Sul. “Deu-me uma resposta encalhada.
Parecia que não era o MNE”, disse.
Joe Berardo considera ter sido
“uma trapalhada” o facto do Governo de Cavaco Silva ter votado, em 1987, contra
e a favor de resoluções diferentes das Nações Unidas que pediam a libertação de
Nelson Mandela.
Além disso, lembra que, nos
governos de Cavaco Silva, foram tormentosas as negociações relativas à barragem
de Cahora Bassa (Moçambique) que também abastece de energia a África do Sul.
O empresário madeirense foi, ele
próprio, convidado por parte de um dos filhos de Graça Machel para associar-se
às cerimónias de hoje na África do Sul. Declinou o convite porque não gosta de
cerimónias fúnebres.
Tal não obsta a que considere
Nelson Mandela “um grande homem, um exemplo para o mundo”. Mandela, tal como
Ghandi [Berardo está hoje em Anadia a homenagear Ghandi], atingiu um patamar ao
alcance de poucos.
“Gostava de atingir a
espiritualidade dele. É o ser humano que mais se aproxima de Deus. Um homem que
deixa um exemplo cultural e espiritual extraordinário. Sem guerras e vaidades
pessoais. A reconciliação que fez na África do Sul é uma obra notável.
Congregar 7 raças e diferentes tribos. É um exemplo para os políticos”, disse.
Para Joe Berardo, o legado maior
deixada por Nelson Mandela foi a mensagem de tolerância e reconciliação e
resume-se no seguinte: “Não interessa o sofrimento, o que interessa é perdoar”,
disse. “Ainda bem que não se vingou”, acrescentou.
E foi a pensar em Nelson Mandela
que Joe Berardo inaugurou, a 11 de Julho último, em Azeitão, na Bacalhoa Vinho
de Portugal, a exposição de colecções de arte africana. A exposição de homenagem
ao líder sul-africano, Nelson Mandela chama-se ‘Out of África’.
Joe Berardo fez fortuna na África
do Sul, na década de 80, com várias participações em explorações de ouro. Chegou
à África do Sul aos 18 anos. Esteve várias vezes com Nelson Mandela.
A ligação de Joe Berardo à África
do Sul mantém-se. Por exemplo, pretende reavivar a memória da passagem de outro
grande líder mundial pela África do Sul: Ghandi.
“Estive na casa onde viveu, em
Durban. Tentei negociar a compra da casa para fazer dela um lugar de
peregrinação. Essa ideia ainda não foi completamente abandonada”, confidenciou.
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