Por SÉRGIO FREITAS TEIXEIRA
Igor Pita, antigo jogador do Nacional e do Marítimo B, tem uma doença auto-imune (Púrpura Trombocitopénica Imune) que leva a uma grande redução do número de plaquetas no sangue. O risco de hemorragias é muito elevado. «Nunca devia de ter jogado futebol», constata, deixando uma crítica: «O número de plaquetas tinha estado sempre abaixo do normal desde 2007 mas nenhum clube por onde passei valorizou esse número!» Uma entrevista exclusiva ao Domínio Público.
«Dói-me o coração. É uma dor muito grande saber que não vou poder continuar a fazer o que mais gosto que é jogar futebol.» Igor Pita força um sorriso e foge às lágrimas. «Já chorei tudo o que havia para chorar.» Aos 24 anos, o madeirense que se estreou na Liga aos 18, despede-se do futebol. Uma despedida fora de tempo e dramática.
«No final de Junho do ano passado, pouco depois de ter assinado pelo União, apanhei uma bactéria no dia que o meu segundo filho nasceu e fui hospitalizado. Apresentei várias alterações no sangue e uma das mais importantes foi o número reduzido de plaquetas. Estive dois meses internado e tive de fazer vários exames que acabaram por detetar uma bactéria chamada Listeria», conta, acrescentando que começou «a recuperar da infeção à bactéria mas, que apesar de todos os outros indicadores do sangue terem melhorado, o número reduzido de plaquetas continuou». Tendo em conta os resultados, Igor Pita solicitou aos clubes todas as outras análises de sangue efetuadas. «Foi aí que constatei que o número de plaquetas tinha estado sempre abaixo do normal desde 2007, mas nenhum clube por onde passei valorizou esse número.»
Seguiu-se a realização de vários estudos muito completos ao sangue que, ao fim de algum tempo, revelaram o diagnóstico: Púrpura Trombocitopénica Imune (PTI), uma doença auto-imune que se reflete num reduzido número de plaquetas no sangue. «Fui seguido por especialistas de Hematologia, na Madeira, em Coimbra e em Lisboa, e todos me disseram que não podia jogar mais futebol. O meu próprio corpo destrói as plaquetas e o grande risco da alta competição está na facilidade que eu tenho em fazer hemorragias», esclareceu o internacional português.
No fundo, o grande problema de continuar com o futebol profissional está relacionado com a intensidade da alta competição. «Caso levasse uma pancada forte podia ser muito perigoso para mim. Todos os médicos que falei disseram-me que não sabem como é que eu tenho andado a jogar. Dizem também que até agora tenho tido muita sorte de não me ter acontecido nada. Todos me dizem que nunca devia de ter jogado futebol!»
DOIS FILHOS PARA CRIAR
Igor Pita não concluiu o 12º ano porque optou por ser profissional de futebol. Agora, tem 24 anos e dois filhos para criar. «A inscrição no União não foi feita porque fiquei doente antes de o contrato se iniciar. Atualmente devia de estar a receber o subsídio de doença, mas, infelizmente, a Segurança Social não abrange aos atletas profissionais. Durante todo este tempo achei que ia receber», confessou com mágoa.Segue-se agora a inscrição no Instituto de Emprego.O sorriso rasgado não hesita em aparecer quando Igor recorda uma carreira abrilhantada por presenças assíduas nas seleções nacionais de sub-19, sub-20 e sub-21. «Joguei ao lado de jogadores como o Rui Patrício, o Daniel Carriço, o Miguel Vítor, e o Adrien Silva», lembra, orgulhoso. Um orgulho que transparece ainda mais quando fala dos primeiros passos na Liga.
«No campeonato, estreei-me na I Liga com 18 anos ao serviço do Nacional. Não fiz muitos jogos porque o Nacional tinha uma grande equipa e era difícil ser titular, mas foi uma experiência muito boa. Aprendi muito nas duas épocas que estive no Nacional, com o plantel principal.», diz Igor que esteve no clube da Choupana de 2006 a 2009.
Da carreira constam passagens pelo Beira-Mar, numa época marcada pela subida do clube de Aveiro à Liga ao comando de Leonardo Jardim. Uma experiência no estrangeiro, no Doxa, do Chipre e ainda uma época no Belenenses, na Liga de Honra. Foi também nesta divisão que o Marítimo surgiu na carreira de Igor.
«Em 2010 tive uma proposta do Marítimo B com a perspetiva de poder subir à equipa principal, pelo meio fui emprestado ao Belenenses e quando voltei ao Marítimo B as coisas até estavam a correr bem quando o azar me bateu à porta. Fiz uma rotura de ligamentos, fui operado, fiz a recuperação mas depois acabei por sair do Marítimo», recorda com desalento.
«SÓ QUERIA TER SABIDO MAIS CEDO!»
Igor Pita procurou o Domínio Público para expor a sua história, garantindo sempre que não pretende culpar ninguém pela doença só ter sido agora detetada. Mas a mágoa está bem presente no discurso.«Não guardo ressentimentos de ninguém em especial, mas só queria era ter sabido mais cedo do problema", declara. O jogador acredita que se os médicos dos clubes tivessem valorizado os indicadores anormais das plaquetas nas análises que analisaram, tudo seria diferente
. «Ia definir outros objetivos para a minha vida e não tinha optado por esta via, tendo até deixado os estudos. Não cheguei a acabar o 12º ano e agora vou ter de começar do zero. Ainda não sei o que vou fazer mas vou ter de trabalhar porque tenho dois filhos que precisam de mim!», assegura.
E é pela família que Igor ganha força para encarar os próximos tempos: recomeçar do zero uma nova atividade profissional e uma nova forma de vida, com muitas dificuldades, mas com o apoio familiar sempre 'na linha da frente'. «O futebol não é a coisa mais importante da vida. A saúde está em primeiro lugar e eu estou bem de saúde, apesar deste problema Sinto-me bem, só não posso é jogar futebol. A vida continua!». Igor não baixa os braços.
Um Camacheiro não se deixa abater. A vida é assim. Muita vezes é fada, outras vezes é madrasta. Cabeça levantada e esperança no futuro. Os valentes vencem sempre. Um abraço!
ResponderEliminarForça grande Igor. É tempo de redefinir objetivos e redescobrir talentos. Forte abraço e força!
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